segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Dias de chuva
hoje os vi diferente
no costume de tanto colar de calor
de repente lá vem lavando
tudo
desastre dádiva dilúvio

me rompeu o tédio
dirigir atento
incomodado
escorregadio e próximo do fim

ninguém sabe quando vai ser
pode ser aqui agora
com essa msg de celular
com esse pensar poesia

me rompeu o tédio
secar papéis
chorar mofo rinite e antialérgicos
lembra da última vez que choveu assim num dia só pro mês inteiro?

Dias de chuva têm sua beleza
são como tristezas
que cortam metáforas de sol

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Tive uma ideia

Gastei vários tempos entorpecido diante de minha estátua, busto cobre que decorava o centro da praça de meu quarto. Logo abaixo do monumento, um papiro presidencial emoldurava a lista de façanhas completamente irrelevantes, todas de minha autoria.

Não houve um qualquer dia de visita em que não tivesse repetido o ato, era de praxe a exibição de meu busto e, a depender da receptividade, ainda havia espaço para a narrativa de algum feito épico. O público se deliciava de meu heroísmo metalinguístico e retribuía com elogios singelos e mentirosos.

Especialmente me apetece o dia no qual enfrentei bravamente um mar revolto de mobiletes, motos, carros, caminhões, ônibus escolares e também ônibus de passeio que se opôs ao meu caminho enquanto diligenciava o protocolo da petição de um cavaleiro de bronze dirigida ao emérito julgador federal. O prazo era exíguo e fatal. Sagrei-me vitorioso e os louros vieram na forma de um tapa nas costas, bastante para o meu prestígio perante os demais. 

Meu forro ostentava algumas goteiras, sempre soube, só que o mofo havia se espalhado pelas arestas do teto formando um bolor esverdeado que já incomodava há alguns dias. Exalava um leve fedor de velho que os narizes mais sensíveis detectariam com um espirro infalível

Quando dei de mim, o busto era ferrugem e o papiro irreconhecível casa de traças. Por sorte, foi um momento de solitária vergonha e nenhum dos transeuntes da praça pôde ver o constrangido que eu fui.

Já não lembrando a última vez quando tive uma ideia, abri as duas janelas que sempre estiveram na minha testa e convidei o sol.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Línguas hiperpósmodernas

Tipo a junk food das comidas rápidas
esvaindo a fome mais urgente dos anorexos de plantão,
cospem de todos os lados e em todas as
faces
línguas hidrofóbicas.
Elas têm ânsia na boca
E escorre baba enquanto vociferam
hate speechs.
Coisas sobre pretas, cidadãs de mal, bichas e cantoras da
nova MPB (sic).
Escuto muito curioso.

Quem diz?
Qual frouxidão goteja de sua incontinência verbal?
Mero ocaso?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ai, me desculpe por te dar
Tantos dias de ambição
Vivo dias de ambição
Cegueira de quereres
Mar de haveres
Falsas musas diante de mim
Talentos atrofiam
Num estalar de stars
ao dissipar o caos
em roupas no varal
em deus no bem no mal.

Não sobrevi, viverás a um dia
Sem te entupir de aspirina
Não sobrevi, viverás a um dia
Sem te despertar com cafeína

Ai, me desculpe por te dar
Tantos dias de aflição
Vivo dias de aflição.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Espaço-temporal

O tempo é o mesmo
poderia ser qualquer dia
são os mesmos cachorros que latem toda noite lá fora
vez ou outra um bicleteiro apitando em vigília
e uma pantera passa por baixo e mia
a madrugada nunca contrai
sem pressa de sol
acolhe toda mente que quer tocar
todo sono que quer dormir
e toda porra que quer gozar
inventa lugar
o tempo é o mesmo
o sujeito passa.



Algumas cores



Não podemos coincidir.
É isso que silencio a ela,
mas desentende.

Minha generosidade
vem com grosseria
a face oferecida tem de ser cuspida.

Sou ratio, sou patio
só que os dois não posso
Não possuo a destreza.

A nossa sobrevida descarta a harmonia
a mediania
ou qualquer fórmula de sucesso.



terça-feira, 3 de julho de 2012

Cores lavadas


Vesti uma camisa desquarada
pra trabalhar
é besta
porque gosto que só dela
e fico pensando se vão me ver
mais burro pobre feio desleixado
só por causa duma
camisa lavada.